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23-05-2013

Câmara realiza audiência sobre a localização da Ponte do Centro

  • Representantes de diversas entidades, do Executivo e do Legislativo participaram na tarde desta quarta-feira (17) de uma audiência pública sobre a localização da nova Ponte do Centro. A discussão permeia principalmente sobre o traçado, se fica com original, ligando a rua Rodolfo Freygang à rua Chile, ou o novo, no Centro Histórico. A audiência foi solicitada pelo vereador Mário Hildebrandt (PSD). “Venho aqui representar minha bancada, junto com os vereadores Zeca Bombeiro, Fábio Fiedler, Robinson Soares (PSD) e Célio Dias (PR). Apresentamos o requerimento para termos a oportunidade de dialogar com a comunidade. Todos os debates até agora foram mais técnicos”, ressaltou.
    O parlamentar afirmou que os vereadores são muito cobrados em relação ao assunto. “Não são poucos os que perguntam onde vai ser. Uns dizem que concordam caso seja na rua Chile, outros dizem que não concordam. Alguns querem derrubar o Clube América, mas não sabem o impacto que isso vai causar. Querem saber quantas pistas vai ter a ponte, se vai haver passeio, se irá prejudicar a visão do Centro Histórico de Blumenau”, contou. Hildebrandt destacou que é preciso saber se a ponte vai atender às necessidades do município. “Se de fato vai desafogar o fluxo de veículos, se o cidadão vai chegar mais rápido no trabalho”, assinalou. Ele ainda abordou a possibilidade de a ponte ser construída na rua Alwin Schrader. “Poderia falar uns 20 minutos sobre as dúvidas. Há muita divergência nas opiniões, inclusive entre os técnicos”, destacou. Hildebrandt contou que a população também questiona se o prefeito pode garantir que o recurso não será perdido, que haverá tempo hábil para tudo. “Mas, poderíamos estar discutindo não uma segunda ponte, mas uma terceira ou quarta”, disse.
    Para o secretário municipal de obras, Paulo França, Blumenau precisa de diversas ligações, não somente a Ponte do Centro. O engenheiro reside na cidade há muitas décadas e já discutiu a cidade com diversos profissionais. “Baseado nas linhas do Plano Diretor, temos que agregar as necessidades da cidade com a necessidade do serviço público. Avançar nas questões deliberativas, mas principalmente de execução. O BID está disponibilizando o dinheiro, mas todos nós vamos pagar”. Paulo lembrou que diversas pontes estão sendo construídas na região: o Complexo do Badenfurt, a Ponte de Gaspar e a Ponte de Ilhota. “Estamos falando de pontes com, em média R$5 mil o metro quadrado. E depois vamos abordar outras com R$40 mil o m². O prazo para fazer licitação da Ponte do Centro é 2015”.
    A importância do debate a respeito da nova ponte também foi ressaltada pelo secretário de planejamento Urbano, Alexandre Gevaerd. “Estamos na era da mobilidade. Faremos diversas mudanças no trânsito e se errarmos, voltaremos atrás, mas a ponte não dá para voltar atrás”, declarou. Ele fez o relato de um histórico da ponte e destacou ser necessário desviar o trânsito do Centro. “Sabemos que a ponte dará um desvio significativo. Temos a missão de inverter a ordem de prioridade no trânsito, que hoje é pedestres, ciclista, transporte coletivo e caminhão. Esse é o desafio e este projeto tem esta perspectiva. Gevaerd observou ainda que a região do Centro Histórico de Blumenau tem que ser preservada. Também garantiu que diversos estudos foram realizados “Nossa ponte tem que ser o mais suave possível”, citou.
    Inserir a classe técnica na discussão a respeito da construção da ponte foi uma grande atitude do Executivo, de acordo com o engenheiro, Arlon Tonolli. “Destaco a posição do atual governo municipal em ter chamado a classe técnica para discutir e fazer a ponte dentro do melhor possível. Nunca tivemos um planejamento urbano tão democrático como neste governo”, apontou. Tonolli relatou que, na visão do Instituto de Engenharia, o traçado da rua Chile é preocupante, pela cota de enchente. “O traçado pela rua Alwin Schrader é o mais adequado, do ponto de vista da cidade”, descreveu.
    O ex-prefeito de Blumenau, Felix Theiss, afirmou que há quase 40 anos já começou a projetar Blumenau. “Na época com 100 mil habitantes. Já prevíamos que em 2000 seriam 320 mil, ainda bem que a taxa de natalidade caiu um pouco. Temos que pensar uma cidade para 700 mil habitantes, se não, estaremos pensando pequeno”, disse. Theiss destacou que Jaraguá do Sul tem oito pontes. “Tem que ser estudado o fluxo de carros em toda a cidade, já foi feito, mas deve ser aprofundado”.
    O presidente do Clube Náutico América, Rafael Borgonovo, destacou que o clube está no Centro Histórico de Blumenau desde 1920. “A única pergunta que quero fazer é: o América vai ser chamado para uma conversa? Sabemos da importância da mobilidade urbana e que em Blumenau, às 18h, ninguém mais anda de carro”, disse
    Já o presidente do Sindilojas, Emílio Schramm, acredita que Blumenau corre riscos ao unir o Centro Histórico com a Prainha. “Durante dez anos, o Coplan planejou uma ponte menor no Centro Histórico. Vejo a Beira-Rio como um convite ao passeio e, se isto acontecer, não será mais. Não será um convite ao turismo. Estamos eternamente de costas para o rio e lá é um de poucos lugares em meio a natureza. Será que uma ponte, com o tráfego intenso, vai me convidar para atravessar de bicicleta ou a pé?”, questionou. A mesma preocupação é da Angelina Vittmann, arquiteta e urbanista. “Me preocupo com a paisagem do rio. Depende da inserção da ponte na paisagem. Nunca devemos discutir uma infraestrutura sozinha. A cidade é um organismo vivo. Temos que discutir a cidade todos os dias”.
    O presidente da Acib, Carlos Tavares D’Amaral, considera que Blumenau está pensando pequeno. “É uma cidade muito grande para estar discutindo apenas uma ponte. Acho que precisamos de mais que isso. Em Verona (Itália), em um trecho pequeno da curva do rio, existem dez pontes. Se fossemos falar de Blumenau, nesse mesmo trecho, seriam apenas três”, destacou. Amaral considera que são necessárias duas pontes. “Uma não exclui a outra. Uma liga a Beira-Rio à margem esquerda e a outra liga o Garcia ao outro lado do rio”, explicou. O presidente afirmou que com apenas uma ponte, o fluxo de carros será concentrado demais em uma única localidade. “Temos que avaliar com muito cuidado e carinho para não estragar a visão do Centro Histórico de Blumenau. Mas, eu faria, na medida do possível, as duas pontes”, ressaltou.
    O urbanista e conselheiro da Acib, Alfredo Lindner, afirmou que o conceito geral do planejamento da cidade é baseado nos anéis viários norte e sul, desde a administração do prefeito Felix Theiss. “Blumenau é uma cidade muito limitada geograficamente, em decorrência dos morros e do rio. O norte foi implantado de maneira incompleta, o trecho até o SESI deveria ser em mão dupla, mas o planejamento foi mudado depois da administração do Felix Theiss. No sul a situação é ainda pior”, ressaltou. Lindner destacou que em qualquer Plano Diretor é necessário um acompanhamento e discussão permanente, “o que sempre aconteceu, em todas as gestões”. O urbanista afirmou que o conceito dos anéis viários nunca foi esquecido, mas foi ampliado. “A atual administração defende a ligação entre bairros. Do meu ponto de vista, esse é um conflito com todas as outras diretrizes avaliadas”, comentou.
    Representando a Associação Blumenauense Pró-Ciclovias, Thiago Duwe, utilizou a tribuna para dizer que no início não ficou muito clara que as ciclovias seriam contempladas no projeto da Ponte. “Vou fazer coro sobre a economicidade. O que adianta termos uma ponte bonita se ela custar muito? Acho que vocês estão certos. Parabéns ao governo. Mas é bom pensar também que com o dinheiro da ponte, podíamos concluir o sistema de bicicletas da cidade”. Em seguida, o ciclista Fernando Cela contou que utiliza a bicicleta como meio de transporte diariamente. Ele morou na Alemanha, fez um estudo sobre ciclovias e deu um recado: “pontes são necessárias, mas neste século devemos ser visionários, o automóvel não é o futuro. Devemos pensar em transporte público e não em automóveis”. Apontou que, de cada 10 carros que transitam em Blumenau, oito estão apenas com motorista dentro. “Isto é jogar dinheiro fora”, salientou. Citou ainda que, no trânsito, o “Brasil mata 2,5 vezes mais do que os Estados Unidos, que tem 3,7 mais automóveis do que o Brasil”.
    Quando utilizou a tribuna, o empresário Rodolfo Souza disse que não levar em conta o projeto da ponte anterior é um desrespeito aos servidores que o elaboraram. “Não entendo que a Prefeitura, durante oito anos, gaste e tenha seu trabalho desprezado. Estamos rasgando dinheiro público”, observou. Ele também é morador da rua Paraguai e disse estar assustado com a nova proposta, pois a via irá receber um tráfego muito forte. “Vamos jogar toda cidade para lá. Vamos perder todas as vagas de estacionamento. Onde a população que vive lá e os visitantes vão colocar seus carros?”, indagou.
    Também moradora da rua Paraguai, Susan Adam Kielwagen, observou que várias administrações discutiram mobilidade urbana, mas ao trocar o governo tudo muda. “São técnicos que se reuniram, como existe tanta mudança de uma administração para outra?”, questionou. Demonstrou preocupação porque, segundo ela, o bairro Ponta Aguda está se tornando um local de passagem e indagou se não seria mais favorável aproveitar o traçado antigo da ponte de ferro para construir uma nova ponte. “Deve ser mais barato porque existem duas cabeceiras já”, avaliou.
    O morador da Ponta Aguda, Leoberto Krause, pensa que novas pontes não são a solução para o trânsito de Blumenau. “Sabe como nós da Ponta Aguda nos sentimos hoje? Somos um corredor de passagem. Recebemos o fluxo da BR 470, da rua Itajaí, rua Uruguai e da rua das Missões. Como poderemos suportar mais um fluxo?”, questionou. Krause afirmou que os moradores do bairro não estão sendo ouvidos. “E como vamos ficar? Com um bairro completamente degradado?”, desferiu.
    O inspetor do Crea, Tiago Luis Pamplona, leu uma carta que representava a opinião da instituição. “A discussão tem de atender todos os segmentos da cidade. Os equipamentos, como pontes, são essenciais para o desenvolvimento da cidade. Uma ponte individualmente não é capaz de melhorar a mobilidade urbana. As pontes são como obras de arte, por sua natureza multidisciplinar”, finalizou.
    Representando a Acrapena, Renato Jung, disse que é preciso pensar grande Blumenau, para onde a cidade pode crescer. “Temos que incentivar o crescimento para a região norte. A questão é realmente ter mais de uma ponte. Temos que ter uma ponte que nos convide a atravessá-la. Me preocupa quatro pistas e um elevado sobre a rua Itajaí. Temos que preservar nosso cartão-postal. As Itoupavas estão crescendo desorganizadamente. É preciso planejar”.

    Vereadores

    Beto Tribess (PMDB)
    O vereador parabenizou o Executivo por ouvir a comunidade. “Com certeza, este debate foi enriquecedor. Vieram ouvir sugestão para ver o que melhorar”. Ainda parabenizou o ex-prefeito, Felix Theiss, pela ajuda ao crescimento do município.

    Cezar Cim (PP)
    “Nós, da Ciências Humanas e Ciências Sociais, ficamos rindo à toa quando o pessoal das Exatas debatem. Hoje aprendi muito. Muitas pessoas em casa não sabiam de tudo que sabia aqui. Como contribuinte, quero a Ponte. Agora onde vão fazer, é problema de vocês. Que façam no melhor local”.

    Mário Hildebrandt (PSD)
    O vereador parabenizou a exposição dos representantes do Executivo. “Nós tivemos debate e falas extremamente ricas. Todas trouxeram informações importantes para o futuro da cidade. Precisamos buscar mais evolução. O debate traz uma grande perspectiva: não devemos trabalhar só na economia. Temos que pensar que, às vezes, o mais barato custa caro”.

    Maurício Goll (PSDB)
    Uma mensagem de Frei Betto foi lida pelo vereador. Ela aponta ser preciso plantar para que as gerações futuras se beneficiarem com a colheita. “Creio que agora estamos próximos desta grande realização. Parabéns”, declarou. O parlamentar ressaltou também a importância das economias serem investidas na ligação Garcia e Velha.

    Marcos da Rosa (DEM)
    Por não ser técnico, o vereador acredita não ter capacidade de dizer onde deve ficar a ponte. “Não podemos submeter o futuro do trânsito da nossa cidade aos ‘achismos’ que temos ouvido nos últimos dias”, avaliou. Ele parabenizou o Prefeito Municipal pela coragem. “A eficiência está sendo colocada como prioridade e isto é importante”, afirmou.

    Jens Mantau (PSDB)
    Para o vereador, a tarde foi de muitas contribuições. “Estou muito feliz. Em tão pouco tempo, apresenta-se uma solução para a cidade. Concordo que temos que discutir várias pontes, mas espero que uma pelo menos aconteça nos próximos anos. Precisamos tirar os projetos da gaveta para executá-los”.

    Robison Soares (PSD)
    Para o vereador, a cidade apresenta necessidade das duas pontes. “As duas se complementam e são importantes para solucionar problemas diferenciados”. O parlamentar solicitou ainda que a discussão não seja realizada de forma apaixonada, mas de forma técnica e clara.

    Fábio Fiedler (PSD)
    A relevância do debate foi exaltada pelo vereador. “Se é o momento de fazermos mais com menos é o momento de enriquecer as expectativas futuras com o que já foi feito. O debate é fundamental, não vamos jogar dinheiro fora”, disse. Ele mostrou dois livros, elaborados pela administração passada. O primeiro editado em 2008, que mostrava imagens e texto: “Revitalização irá conferir novo brilho a Prainha”. Fábio destacou que com o projeto Blumenau 2050 os estudos avançaram e o livro de 2011 trazia, além da ponte, a construção de uma passarela. O vereador também destacou as entidades que participaram do debate na época.